terça-feira, 27 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
se contarmos..

se contarmos todas as palavras que trocamos
daria para escrever um bom romance
eu nem te conhecia e contei meus absurdos
tu nem me conhecia e contou teus muitos planos
se contarmos todos os olhares que trocamos
daria para encher um lago inteiro
eu nem te conhecia e contei o meu passado
tu nem me conhecia e contou teu desespero
se contarmos todos os silêncios que trocamos
daria para povoar um edifício
eu nem te conhecia e contei meus vinte anos
tu nem me conhecia e contou teus sacrifícios
se contarmos todas as fantasias que trocamos
daria pra dizer que amantes fomos
mas o amor exige beijos e abraços
e não reconheceu o nosso encanto
- Martha Medeiros in “Poesia Reunida”
quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Eu era uma dessas garotas sempre sorridentes que a gente, quando encontra, abraça como se tomasse o resto da Coca-Cola no gargalo. É pessoal e ao mesmo tempo ninguém aguenta não fazer. Dá vergonha e tem seu charme. Umas dessas garotas que nitidamente foi feliz na infância porque o pai conversava no fresquinho da noite sobre como a vida não precisa ser assustadora. Dessas meninas que quando alguém quer explicar, começa falando de si mesmo.
domingo, 18 de outubro de 2009
in(certezas)

''Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Eu estou na lanterna dos afogados
Eu estou te esperando
Vê se não vai demorar!
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar''
Sabe aquela angústia? Eu sei.
Sabe aquela vontade enorme de dar um abraço e morrer pra sempre envolvida nele? Eu sei.
Sabe quando as coisas são e ao mesmo tempo não são como você imagina? Eu sei.
É uma vontade avassaladora de se expressar, de poder falar, de poder mostrar.. porque eu sei que eu tenho os maiores amores do mundo.
Eu nunca gostei tanto das flores, mas percebi ontem o quanto elas se fizeram importante. Eu podia ter te dado uma. Eu podia ter feito diferente. Não podia?
Eu podia ter me dado mais, ou eu podia ter me dado menos. Ter falado menos, ter feito mais, ter dançado mais, ter causado menos, ter sentido menos.. Eu esqueci de falar o quanto você é bonita. ''Esqueci meu orgulho em casa e fui ser feliz''. Aham, tá.
Esqueço por alguns segundos quem eu sou, cansei de fantasiar uma coisa que não é. É bem como diz aquela frase do Caio Fernando Abreu "Repito sempre: sossega, sossega - o amor não é para o teu bico. '' e quando de repente a gente percebe ''Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo..'' E há algo perdido, entre o que eu te roubei e o que tu me deixou. Mas as coisas passam a perder a importância, ou nós poupamos por simplesmente o fato de deixar de lado é mais fácil? Dói menos? Não importa.
"Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar.''
Amanheço mais mulher e menos menina a cada dia. Amanheço minhas dezoito primaveras e dezoito invernos também, amanheço dezoito verões, dezoito carnavais e dezoito outonos que vão e vêm. amanheço mil pássaros cantando e mil sóis se pondo, e mais da metade eu não vi. amanheço quase tudo alegria e (quase) todos os meus (des)amores. amanheço dezoito mil sonhos, amanheço céus de blues e nuvens brancas pelos olhos. amanheço mais menina e menos mulher, mesmo estando mais perto dos vinte e mais longe da dos dez. não amanheço meio termo mas amanheço incertezas, sorrisos e palavras. amanheço passageira, mas inteira. amanheço minha longa estrada pouco andada, amanheço meus quilômetros a pé e todos os meus sonhos. amanheço meu subjetivo infinito em um metro e setenta e um centímetros de altura. amanheço minha identidade maior que meu pé tamanho trinte e oito. amanheço dezoito datas repetidas, dezoito comemorações do acaso seguidas de mais mil e um milhão. amanheço um ano a mais, amanheço contagem regressiva, trezentos e cinquenta e cinco dias, mais uma vez. amanheço mais sincera, mais vivida, mais perdida e mais achada. amanheço mais um dia, outro dia, mais um mês, outro mês, outro ano, mais um ano. . e assim, sucessivamente.
Tenho um amor fresco e com gosto de chuva e raios (que medo deles!) e urgências. Obrigada pelos dias de sol.
Porque metade de mim sempre fica, e a outra metade vai. Mas volta.
Essa dor de cabeça me consome, e eu ainda não consegui digerir os cinquenta e dois cigarros que eu fumei hoje. Um beijo.
(ontem.. 17.10)
domingo, 11 de outubro de 2009
Ah, teus olhos...
Hoje, eu acordei com uma vontade imensa de tomar um sol, mais do que todos os outros dias. Porque há tempos o dia não amanhece tão bonito, e uma só coisa me inspira.
"Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos''
"Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos''
terça-feira, 6 de outubro de 2009
..e o que sobrou.

De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca - de vodca, de lágrima e de café. O de vodca, sem água nem limão ou suco de laranja, vodca pura, transparente, meio viscosa, durante as noites em que chegava em casa e, sem Ana, sentava no sofá para beber no último copo de cristal que sobrara de uma briga. O gosto de lágrima chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, sem Ana, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o cheiro dela, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os traveseiros como se fossem o corpo dela, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos. O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo na boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-pra-você e do outro aldo da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu.
-Caio Fernando Abreu em Sem Ana, Blues de Os Dragões não conhecem o paraíso.
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